Parte
III
Nesta 28ª postagem, encerramos a
modalidade Juros / Divida Brasileira.
Os "governantes" obedecem os bancos. |
Na última semana de julho/15, a taxa SELIC foi majorada para 14.25%, basta fazer uma regra de três com os cálculos
informados por Benayon, para sabermos o reflexo deste índice no valor da Divida
Brasileira em trilhões de Reais.
As maiores economias tem juros baixos. |
Observe que Benayon também conclama o
Povo e Exército as ruas, para nos independer da tirania dos vassalos e dos
corsários, o Brasil por D. Pedro I se independeu de Portugal, mas ainda, não
nos libertamos do governo indireto da oligarquia inglesa, é tão verdade isto,
que, qualquer futilidade praticada por qualquer um dos membros daquela monarquia, que vive as custas da miséria do Planeta, as mídias fazem o alarido
no horário nobre.
Vamos aos fatos ou melhor aos
números:
Jorge Barreto
Troca-se impostos por juros. |
Em suma, a desnacionalização da economia - dominada por cartéis aqui
instalados e por suas matrizes no exterior - acarreta prejuízos anuais ao País
assim estimáveis:
1) diferença entre a taxa de juros efetiva da
dívida pública e a adequada: 0,13 [13%] x R$ 2,5 trilhões = R$ 320 bilhões;
2) diferença entre a taxa média dos juros, no
crédito às empresas e pessoas físicas, e a que deveria prevalecer: 0,2 [20%] x
R$ 2,6 trilhões = R$ 520 bilhões;
3) sobre preços nos bens e serviços produzidos para
o mercado interno = 80% do PIB = R$ 4,2 trilhões;
4) sobre faturamento das importações de produtos
finais e insumos para a indústria, e de serviços: 60% de US$ 229 bilhões (bens)
= US$ 137,4 x 2,8 = R$ 385 bilhões + R$ 115 bilhões (serviços) = R$ 500
bilhões;
5) sub faturamento das exportações: 50% de US$
225,1 bilhões = US$ 112,5 bilhões x 2,8 = R$ 315 bilhões;
6) perdas na relação de troca (terms of trade),
devidas à primarização da economia: importar, por preços até cem vezes superiores, bens acabados produzidos com
matérias-primas exportadas a preço vil.
O item 6 é difícil de quantificar, mas corresponde certamente um
múltiplo (2 ou 3) do presente valor do comércio exterior do País, a que se deve
aplicar outro múltiplo (no mínimo, 10) decorrente de comparar o atual PIB, com
o que teríamos, se o País não se tivesse submetido ao modelo dependente, desde
os anos 50: R$ 800 a 1.200 bilhões x 10 = R$ 8 trilhões a R$ 12 trilhões anuais.
Mesmo sem adicionar
o item 6, que equivale ao dobro dos cinco anteriores, a soma destes totaliza R$
5,85 trilhões, cujo cálculo não é exagerado: embora possa conter algumas
duplas contagens, aplica alguns percentuais provavelmente subestimados.
As perdas acima
resumidas incidem a cada ano. Não incluem as pontuais, como as enormes
transferências fraudulentas para o exterior através do BANESTADO nos anos 90, nem os prejuízos superiores a R$ 50
trilhões, decorrentes das privatizações de FHC, afora os que prosseguem,
desde então, em função delas.
Para uma ideia do estrago desencadeado por poucos pontos percentuais na
taxa, basta fazer simulações com a composição anual dos juros.
Os juros incorporados ao principal - supondo que não se liquidassem
juros e amortizações, em dinheiro, durante 30 anos - fariam ascender os 3 trilhões
de reais, no momento, da dívida interna), para os seguintes montantes:
1) 12% aa.
= R$ 89,9 trilhões, (multiplicaria a dívida por 30);
2) 15% aa.
= R$ 198,6 trilhões, (a multiplicaria por 66);
3) 18 % aa.
= R$ 430,1 trilhões (a multiplicaria por 144).
Portanto, a cada três pontos percentuais de aumento, o multiplicador
mais que dobraria. Do jeito que vai a presente taxa efetiva (18% aa.), a dívida
atingiria quantia equivalente a US$ 143 trilhões, ou seja, quantia igual a duas
vezes a soma dos PIBs de todos os países do mundo.
Tenho explicado que os formadores de
opinião, montados no monopólio da comunicação social - cujo negócio é
desinformar - fazem a maior parte do público comprar a ideia de que as
elevações das taxas de juros seriam necessárias para conter a inflação dos
preços.
As artes da desinformação incluem
fazer acreditar numa entidade misteriosa chamada “mercado”, a que se atribui
exigir os injustificáveis juros estratosféricos. Então, aos olhos do público
esses juros deixam de ser o instrumento do saqueio cometido pelo cartel dos
bancos e são imputados ao abstrato “mercado” e a supostas leis econômicas,
igualmente abstratas.
A armação a serviço dos concentradores financeiros desvia a discussão do
terreno dos fatos para o das teorias econômicas e para o das doutrinas
político-filosóficas.
A questão não é doutrinária: não são neoliberais nem necessariamente
partidários da direita os defensores e aproveitadores da política de juros
altos, tal como os da política de subsidiar trilionariamente os cartéis
transnacionais.
Trata-se simplesmente de arrancar do Brasil quantias e recursos naturais
incalculáveis. É pirataria, assalto, extorsão, reminiscente das proezas
imperiais do século XIX, como as guerras do ópio, que o império britânico
desencadeou contra a China, de 1839 a 1842 e de 1856 a 1860.
O objetivo inicial dessas guerras foi deixar de pagar em ouro (mesmo
dispondo a Inglaterra abundantemente do metal proveniente do Brasil e Alhures)
as importações das manufaturas produzidas na China, bem como apropriar-se das
indústrias e roubar-lhe as técnicas de produção, tal como já havia feito na
Índia.
Falando nesta, para produzir o ópio destinado à China, era só explorar
os trabalhadores e a terra da Índia, saqueada de 1757 a 1863, em recursos
equivalentes ao dobro dos investimentos feitos na Inglaterra, inclusive em
imóveis.
A Grã-Bretanha havia transformado o grosso de suas importações da Índia
em pilhagem escancarada, deixando de pagar o que quer que fosse por elas. Vide
André G. FRANK, Acumulação Mundial 1492-1789. Rio de Janeiro, 1977, pp. 178 et segs.
Ao contrário do que se imagina, a Índia não era pobre e só no Século XIX
é que afundou na miséria extrema, com milhões com fome, dormindo na rua em
Calcultá. Os incautos admiradores brasileiros do império angloamericano não
percebem que, no curso atual, é para algo assim que o País se encaminha.
Os juros abusivos nos títulos
públicos - e mais ainda no crédito a empresas e a pessoas físicas - bem como os
espantosos subsídios às aplicações financeiras e às empresas transnacionais -
são apenas alguns dos mecanismos montados para tornar falido o Brasil e
acelerar sua dilaceração sob as bicadas de vorazes abutres financeiros.
Informa-se agora sobre propinas na Receita Federal de empresas
transnacionais, e bancos estrangeiros e locais, para deixar de pagar impostos
devidos. O mais notável é que esses bancos e empresas são extremamente
favorecidos pela legislação: para saquear, nem precisam sonegar nem inadimplir
impostos, mas o fazem para aumentar o butim.
As transnacionais são, ademais, cumuladas de inacreditáveis favores
fiscais e subsídios, tendo elas praticamente assumido o poder desde o governo
militar-udenista que derrubou Vargas em 1954.
Daí - não obstante a quantidade colossal das exportações agrícolas e
minerais - continua crescendo até hoje, agora em ritmo acima de mais de US$ 90
bilhões/ano, o déficit de transações correntes com o exterior, por causa das
transferências ao exterior dos imensos lucros das transnacionais, sob as mais
diversas formas contábeis.
Mesmo alguns governos militares que
tinham a meta de ampliar o poder nacional através de estatais, especialmente em
áreas estratégicas, viram-se frustrados pela armadilha da dívida externa,
ficando reféns do “sistema financeiro internacional” a comandar a área
financeira do governo.
Esse sistema engendrou a Nova
República e, mediante a mesma chantagem da dívida, desnacionalizou mais
segmentos da economia, inclusive estatais, ficando as eleições dependentes do
poder financeiro concentrado e da grande mídia, sempre a serviço do império.
Não importa se você
é de direita ou esquerda: se é brasileiro, está sendo brutalmente saqueado,
salvo as infames exceções dos agentes e colaboradores da oligarquia financeira
internacional.
O que a massa de trabalhadores, empresários, gerentes, técnicos,
funcionários civis e militares não percebe – porque lhe é cuidadosamente
ocultado – é que os políticos, como o gato da fábula milenar de Esopo, tiram as
castanhas do fogo para a raposa, os carteis financeiros e econômicos
transnacionais.
Aí está um engano sério. O mercado, nas mãos dos oligopólios e cartéis,
não funciona natural nem automaticamente: ele é controlado e manipulado por
eles, e lhes serve de álibi, ao usarem o termo impessoal “mercado” em
relação a ações praticadas por pessoas físicas, a serviço de grupos
concentradores de poder econômico e financeiro.
Isso é exatamente o contrário do funcionamento 'natural' e 'automático'
do mercado e também do que teorizaram os clássicos da economia sobre mercados
livres, com participantes igualmente submetidos à concorrência. Na realidade, a
intervenção do Estado capitalista:
1) afasta a aplicação dos mecanismos de defesa econômica do Estado, coibidora
dos abusos praticados pelos concentradores;
2) promove o aumento da concentração do poder da oligarquia financeira, através
de subsídios governamentais e das políticas fiscal e monetária, entre outras.
Nessas fabulosas
negociatas - que a grande mídia nunca denunciou - foram entregues a cartéis
estrangeiros as infra estruturas construídas e pagas pelo Estado. Além disso,
privatizaram-se e desnacionalizaram-se bancos, cada vez mais favorecidos pela
legislação e pelo BACEN.
Ora, aumentar os juros significa:
1) fazer crescer as insuportáveis despesas financeiras do Tesouro,
incapacitando-o de realizar os prementes investimentos de infra estrutura,
baixar o “custo Brasil” e melhorar o grau de competitividade;
2) elevar a taxa de inflação, uma vez que os juros são um dos custos de
produção, além de dissuadir investimentos produtivos e assim reduzir a oferta
de bens e serviços, determinante da alta dos preços;
3) tornar ainda mais concentrada a renda e o poder nas mãos dos
oligarcas financeiros: daí ser essa política promovida pelas “autoridades
monetárias” e endossada pelos beneficiários das doações de grandes empresas e
bancos às campanhas eleitorais.
Com a composição e capitalização da
elevadíssima taxa SELIC, o crescimento dessa dívida compromete, em definitivo,
a independência do País.
Desde Getúlio
Vargas, faltou aos presidentes focados na realidade do País, decisão para
convocar o povo às ruas e mobilizar lideranças do Exército, a fim de ganhar
condições de ocupar o poder real.
Adriano Benayon é Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo.
Autor de “Globalização versus
Desenvolvimento”, Editora Escrituras.